“Bom mesmo é ter um caminhão”, dizia Chico Buarque em uma de suas canções de exílio. Talvez porque o caminhão seja um símbolo de independência. Ele simboliza uma eterna viagem, entre a origem de uma mercadoria e seu destino, até a próxima mercadoria, e assim por diante. De fato “caminhão” deveria ser aumentativo de caminho, tal como um casarão é uma casa bem grande. Caminhão, um caminho bem grande…
Todo caminhoneiro que é dono de seu caminhão é, por assim dizer, um pequeno empresário, já que é responsável pelo seu próprio destino. E aqueles que não são proprietários do seu instrumento de trabalho, ao menos compartilham desta imagem do aventureiro que desvenda um Brasil pouco conhecido.
Isto por um motivo muito simples, o caminhoneiro é aquele que mais entende de Brasil. Há poucos lugares em que algum deles não esteve, neste imenso continente da língua portuguesa. Representam uma versão atualizada dos antigos tropeiros, ou mesmo dos bandeirantes, ambientados às estradas dos interiores desta imensa nação. Do Aiapoque ao Chuí, do Acre à João Pessoa. Esta é a via crucis do caminhoneiro, este é o seu caminho.
O caminhão, ao mesmo tempo, é como uma extensão da vida do caminhoneiro. Algumas vezes sua casa e de sua família. Isto quando não serve de motel para as aventuras da estrada, até porque se sabe do fetiche que a imagem do caminhoneiro exerce sobre algumas mulheres. O homem viril e sábio, que conquista a estrada e conhece os segredos da vida. Qual é o caminhoneiro que não tem uma destas histórias de mulheres da estrada para contar?
No entanto, nem tudo são flores nesta vida perigosa e incerta. Sabe-se dos inúmeros assaltos que os caminhoneiros sofrem na estrada. Há bandidos especializados neste tipo de roubo, que é cada vez mais comum por aqui. Estes assaltos acontecem até mesmo nas rodovias mais movimentadas do país, a exemplo da Dutra no trecho da Serra das Araras, já no Estado do Rio, o que prova o descaso total das autoridades.
Além disto, há o problema da péssima situação de grande parte das rodovias. Um problema que aflige a quase todos os Estados brasileiros, algumas delas de fundamental importância, tal como a BR 101, que liga Rio de Janeiro ao nordeste. Não importa se a rodovia está sob concessão Municipal, Estadual ou Federal, a tendência é do ruim para o pior. Mesmo o governo sabendo que o principal meio de transporte de mercadoria do país é rodoviário que, sozinha, transporta mais da metade de todas as mercadorias no país.
De qualquer forma, mesmo com todos os percalços, o caminhoneiro e seu caminhão figuram em diversas manifestações artísticas, talvez pelo reconhecimento por parte dos artistas por esta importante profissão. Aparece em temas de músicas, como na canção “Caminhoneiro” de Roberto Carlos; em seriados, como no “Carga Pesada e até em filmes, como no “Bye Bye Brasil” baseado nos versos da música de mesmo nome de Chico Buarque, com a qual inicio esta crônica. Provavelmente este tema é usado em muitas outras obras de artistas de todo o tipo, que me escapam no momento.
Mas o caminhoneiro não apenas é tema de arte, também é ativo neste processo. Um exemplo disto talvez seja as frases de caminhão, que já entraram na História como uma expressão cultural típica. Muitas delas sequer têm autoria definida, prova que viraram folclore popular. São mensagens de bom agouro, manifestações humorísticas, conselhos dos mais variados, enfim, pérolas da sabedoria popular. “Os últimos serão os primeiros e os do meio, sempre serão os do meio.”ou ainda “ Não Sou o Dono do Mundo….Sou o Filho do Dono”
São muitos os números, histórias e estórias que possuem esta profissão, vasta tal como o caminho que percorre e impossíveis de serem plenamente retratadas nesta humilde crônica. Diz meu pai que “Mais longe vai quem mais caminha” e neste “caminhão” que todo caminhoneiro tem pela frente, há sempre muito a se aprender.
Boa Viagem!
Bogado Lins