Conheço pessoalmente Julio, ou mais precisamente “Rrulio”, dito assim, em castelhano, faz uns dez anos, talvez mais. Herdei sua amizade de um outro amigo, Luiz Carlos. Tive o prazer de ajudá-lo com as já velhas burocracias da Lei Rouanet para uma exposição sua na ocasião no MNBA.
Seu trabalho é difícil de analisar para um brasileiro, e por isto mesmo, não pretendo fazê-lo. Afinal não tenho o jargão necessário para contextualizar o antes, o durante e o depois. É bom lembrar que além da trajetória pessoal do artista, sua obra tem a ver com a escola cubana de artes plásticas, e seus diálogos, algo possivelmente alheio mesmo a grandes estudiosos de artes do nosso país. Mas enfim, somos e podemos apreciar qualquer expressão artística, e se não podemos, é porque houve alguma falta de universalidade do artista, já que, para muitos, a arte é justamente este intermédio que um artista extrai do pessoal, local e universal.
Pude contemplar inclusive algumas gravuras da época que parecem indicar os caminhos que o artista tomou em algumas de suas obras mais recentes Uma delas tive a sorte de adquirir e tê-la exposta aqui na parede de minha casa. Trata-se de um Canis Lupus Familiaris trajando gravata e com um prendedor no nariz. Além dela, ganhei de brinde uma foto que o artista fez da paisagem da Urca, onde vivia na época.
Hoje, seu atelier se situa na simpática Guaratiba onde, além de um amplo espaço, conta com ferros, fornos, lâminas e demais indumentários que um artista precisa utilizar para elaborar sua obra. Soma-se a isto o afeto de um simpático cão vira-lata que fica indo e vindo entre o atelier e o jardim, apelidado de Cali.
Sua obra é tão extensa quanto suas habilidades. Julio é uma artista na melhor acepção do termo, provindo do latim, cujo significado original presumia um misto entre técnica, labor e arte. Tem esculturas em ferro, bronze, latão, madeira, acrílico, mármore, pinturas, cerâmicas, murais, fotos e tantas técnicas e formatos que eu mesmo desconheço a extensão.
Dentre as obras mais significativas que me deparei do artista, destaco este peixe em madeira. Uma das obras mais interessantes, dentre as que eu tive oportunidade de apreciar ao vivo, e isto não me refiro apenas do artista, ou de outros ateliês, seguramente me refiro a todas, sejam expostas em museus, galerias ou ateliês. Está no naipe dos grandes artistas, ou estará, já que por alguma morbidade humana, artista parece só se validar definitivamente em sua morte,
Mas muito além de sua obra, Julio é um ser humano com uma história fascinante. Além de seu período em Havana, em plena Cuba comunista na Guerra Fria, esteve em diversos países em intercâmbio cultural. Dentre eles, veja você, a Suécia, local de clima praticamente oposto de sua terra natal, onde expôs em alguns dos principais museus de Estocolmo. O seu sotaque também é digno de nota, mistura um acento da malandragem carioca com um portunhol hijo de puta, destes que nenhum ibérico consegue se desvenciliar, mesmo com muito esforço.
Indico o acesso à Fanpage do Ateliê do artista. Em breve, pelo que ele próprio me relatou, terá um site novo com seu trabalho exposto com informações sobre as obras.
Bogado Lins é escritor, roteirista e articulador do Literatura Cotidiana