Filosofia em grego significa algo muito próximo a “amar ao saber”. Tudo surgiu a partir de Sócrates, um humorista muito inteligente que acabou convencendo a todos que era o mais sábio. Sua estratégia foi ter enunciando antes dos seus antagonistas: só sei que nada sei. Pois bem, o fato de saber que nada sabia fazia com que fosse o único a saber algo entre seus iguais. Um truque lógico que não queria dizer nada. Esta, portanto, era a grande ironia que exibia, como um troféu, para os outros sábios na Grécia.
O que sabemos de Sócrates foi escrito a partir de Platão. No fundo, o próprio Platão utilizou-se de Sócrates para poder se vender. Ora, nada melhor que utilizar-se de uma terceira pessoa para justificar algo que você pensa e escrever uma verdade. Seu método projeta a verdade para além do plano físico, uma geografia somente habitada pelo pensamento. Um local, até então, ermo, e passível de plena ocupação. Assim, surgiu o conceito de verdade: um local acessado apenas por quem se aventura além dos sentidos, fora do mundo, possível de infinitas operações e possibilidades. Quem será o filósofo portanto? Aquele que busca a verdade?
A partir deste questionamento, inicia a peça O Jovem Príncipe e a Verdade. A isca do príncipe procurar a tal verdade é uma bela camponesa. Seu pai estabelece que a única forma de dar a mão de sua filha ao jovem príncipe é que ele encontre a verdade.Será a verdade tão valiosa quanto uma bela mulher? Nisto, ele se lança a uma jornada interminável em busca da … Princesa? Verdade?
Um encontro inusitado ocorre: o contador da história, desde o início presente no enredo, se une ao protagonista neste inusitado caminho em busca da… verdade. Mas será uma busca em vão? Antes de tudo, é bom esclarecer, trata-se de uma peça infantil. E daí mais uma vez entramos no questionamento: até onde a criança consegue compreender uma peça cujo tema exibe tamanha complexidade? Mas veja bem, a questão transcende, será que nós adultos compreendemos a tal verdade? Será que em nossa busca em cima, em baixo, à esquerda, à direita, ao lado, ao outro, dentro, fora, aqui, lá e todos os lugares possíveis, encontramos a tal verdade? Respondendo por mim, não. Apenas uma ou outra perdida, de um ou de outro, que não completa o quebra cabeça e corresponde a apenas uma faceta desta bela senhora, que as vezes se veste muito mal e aparece da pior forma possível.
Sendo assim, só tenho a indicar esta peça “O Jovem Príncipe e a Verdade”, para que você habitue o seu filho, e você mesmo – porque não? A estar do lado daqueles que estão em busca da verdade, e não dos demais, por algum motivo maioria sempre, daqueles que acham que a encontraram.Lembrando que a busca da verdade é sempre pessoal e apenas passível de comunicação a partir deste instrumento, a arte. E esta peça, um caminho pessoal dos envolvidos, é cheia de música, talento e encanto de modo a encantar você e sua família.
Boa peça!
Bogado Lins é escritor, roteirista e articulador do Literatura Cotidiana
Local: Teatro Viradalata
Endereço: Rua Apinajés 1387 – Perdizes
Temporada: 11 de janeiro até 6 de abril. Sábados e domingos, 16h.
Duração: 60 minutos
Telefone para contato (11) 3868-2535
Ingresso: R$30,00
Temporada: até 6/04/2014
Direção: Regina Galdino
Texto: Jean-Claude Carriere
Tradução: Amanda Banfy
Elenco: Gerson Steves
Leonardo Santiago
Daniel Costa
Amanda Banffy
Rafa Miranda
Flávio Rubens
Foto: Erik Almeida