São Paulo é uma cidade cheia de humanidade, humana demais. Afinal, somos mais de 11 milhões concentrados só no núcleo principal, sem contar a região metropolitana, que se estima contar com 20 milhões ao todo, circulando pelas veias, artérias e coração da cidade. Era de se esperar, portanto, que a paisagem fosse cheia de humanidades distribuídas, espalhadas, perdidas,entulhadas, aguardando um olhar que as traga a tona.
O olhar descobre a cidade, mas no ato de observar há sempre uma barreira. As paredes não são apenas as edificações que limitam o nosso horizonte, elas também estão em nós, nos sentidos que estabelecemos. O cotidiano limita a cidade, a partir dos sentidos cotidianos que conferimos às ruas, esquinas, praças e pessoas. Estamos presos a uma teia de conceitos pré-estabelecidos. Para realmente ver a cidade, é preciso quebrar esta barreira. É preciso ressignificar os espaços.
A exposição Cidade Exposta parece se inspirar neste conceito: ultrapassar este limite. Ao revisitar a cidade, o fotógrafo recria a paisagem, torna-se parte dela. É quase um paradoxo: o olhar quando olha também é olhado. A cidade nos ocupa. É como o abismo de Nietzsche, depois de algum tempo, ele começa a olhar de volta.
Este é o meu olhar da exposição. De alguma forma, me permitiu conhecer e reconhecer à cidade que vive em mim há cerca de dez anos. Fios entrelaçados criam geometrias. Janelas quebradas e entulhos tornam-se traços de pincéis. Espelhos remontam a realidade como um quebra-cabeça. Um pombo se insere em pleno vôo na superfície de uma parede em ruínas. Uma mulher atravessa as esquinas. Multidões se diluem no espaço. Os olhares se comunicam e se multiplicam, expandem a cidade em sentidos.
Apesar da diversidade de fotógrafos, são sete ao todo, a exposição possui uma unidade, méritos da curadoria. Creio que foi direcionada pelo tema do curso que deu origem à mostra e de uma seleção cuidadosa das obras, de modo a criar um discurso vigoroso e que está presente na exposição, inclusive verbalizado em texto. Porém, ele não é necessário, basta olhar que tudo se explica. A cidade é ao mesmo tempo todos e cada um de nós.
Fotógrafos: Danielle do Prado, Gely Durães, Joana Dória, Jean-Pierre Gingold, Luciana Lopes, Marcelo Galvão e Roberto Ono
Curadoria: Marcello Vitorino
Local: Galeria Quarta Parede
Endereço: Rua Conselheiro Rodrigues Alves, 722 – Vila Mariana – São Paulo
Período: Até 30/08/2014
Informações no site: www.galeriaquartaparede.com.br