Atualmente trabalho no Sumaré, numa casa grande com vista para o horizonte. Sua vista é cheia de prédios, mas continua sendo um horizonte. Uma árvore ou outra desponta, dando uma suavidade ao olhar. E os arredores são ainda mais agradáveis. Anda-se por entre casas, um pequeno parque da Sabesp e ruas arborizadas. É engraçado, mas a maioria delas é de empresas, de certa forma contrariando o clima bucólico dos pássaros e dos eventuais moradores.
Há uma padaria que não vende pão e que vive cheia de artistas e rostos conhecidos pela proximidade da MTV, além de um monte de mulheres bonitas. Seja a hora que for, está apinhada de gente moderna, endinheirada ou conectada, com exceção de mim, é claro, que não sou nenhum dos três. Há uma pizza de muzzarella única e um pudim de outro mundo, além daqueles garçons típicos com anos de casa. Tem também uma atendente bem apanhada, mas que não dá bola para ninguém.
Algumas ruas abaixo, um comércio de bairro desponta, com algumas lojas pequenas, cafés e um barbeiro. Parece trivial, mas um barbeiro autêntico está cada vez mais raro de encontrar. E, para conceder um ar ainda mais peculiar à situação, ele é argentino! Já falei em outra crônica dele por aqui, quando me cortou ao fazer minha barba após a Copa. Agora está mais contido, mas continua relatando suas teorias conspiratórias ligadas a fenômenos díspares, como a política e o futebol.
Certos dias, principalmente a sexta-feira, a bucolicidade do local dá lugar a uma histeria sem igual. Junta-se, como que por encanto, um monte de adolescentes coloridos que se amontoam enfileirados em frente à sede da MTV, gritando por alguma celebridade da qual eu nunca ouvi falar. Já virou até uma rotina, assim como o tradicional churrasco às sextas-feiras regado a Tang de limão.
Aliás, as peculiaridades não se limitam às extensões do bairro, mas também ao próprio local de trabalho. Logo na entrada, veem-se umas tantas tartarugas procurando a posição ideal para exibir sua preguiça. Abaixo, uma piscina nunca dantes utilizada exibe o ícone de uma das maiores empresas do Brasil nadando e uma elegante cozinha a céu aberto abriga nossas conversas sobre futebol, o assunto mais importante dentre as coisas desimportantes da vida, como diria o Gustavo.
Muitas vezes, meu trabalho exige que circule pela extensão da casa, por entre os departamentos, trocando uma prosa ou outra sobre os projetos em andamento. Nestes meandros, há um espaço ou outro para comentários sem propósitos. Falamos sobre coisas diversas que não têm serventia alguma além do momento em que são proferidas. Vez ou outra, há algo sério a se falar.
E, nestes cerca de sete meses, encontrei o meu único momento de banho de sol. Após o almoço, dou minha rápida escapadela para a rua e me refugio no tal parque da Sabesp. Deito-me em um dos assentos coletivos e tiro a camisa para me abrigar ao sol. Sempre algo em torno de quinze minutos. É nestes momentos em que, às vezes, uma grande ideia me ocorre, para os projetos ou para minha tradicional crônica de domingo. Ou não.