Meu filho perguntou ontem o seu primeiro porquê. Era sobre uma coisa tão cotidiana, tão sem por quê, que nem me lembro o que exatamente era. Ainda não havia motivo de explicar a ele que, no final da cadeia de porquês sobre qualquer questão, acaba-se sempre no início da dúvida.
Perguntar-se por que talvez seja o motivo de que a humanidade chegou aonde chegou. Mas provavelmente seja também o motivo de que ela nunca chegará além, nunca chegará à resposta. Para se ter sentido nas coisas é preciso cessar as perguntas e ter algum tipo de instinto, de certeza, que poderíamos muito bem chamar de fé, mesmo que não necessariamente seja derivada de um Deus.
Não é à toa que o “porquê” não combina com a ciência. Ela ocupa-se de coisas práticas tais como “o quê”, “como”, “onde” e ”quando”. No início, um porquê parece muito simples. Poderíamos perguntar, por exemplo, do porquê que o Flamengo foi campeão e não, por exemplo, o Palmeiras, ou o São Paulo.
A resposta mais simples seria porque fez mais pontos. E por que? Porque ganhou mais jogos… e assim até a questão final: mas por que o Flamengo e não outro? E é aí que existirá um juízo de valor.
Algumas vezes, em nome da ciência, se estabelecem juízos de valor em relação a supostas causalidades. Quando dizemos que aspectos de nossa cultura, como a monogania, por exemplo, exercem funções sociais, presumimos que escolhemos ou que a “sociedade” escolhe com consciência, e para o nosso melhor. Daí, no final de um porquê na ciência, se chegar a um juízo de valor. Pode até estar correta a afirmação, mas nunca saberemos.
De todo modo, o porquê é fundamental, mas para a filosofia. É ela que nos dá as respostas, ou as perguntas, de que precisamos para estabelecer como devemos pensar, agir e ser. E mesmo como o mundo pode ser. Deus é uma resposta possível, que leva a tantas outras perguntas. A religião, que poderia ser o caminho de se questionar sobre o assunto, costuma ser a ausência de porquês. Na religião, não há questionamento, e, quando há, é por uma via completamente equivocada: a da teologia. Não se pode levar a sério quem já se perguntou, por exemplo, se Jesus cagava.
Portanto, a vereda que meu filho percorrerá com seus porquês pode ser muito mais longa do que uma simples resposta. Espero que o leve a eternas perguntas.