Estou preocupado. Percebi que estou ensinando meu filho de modo errado. É difícil explicar, até porque posso ser grampeado pela Legião da Boa Vontade, com suas fotos de gatinhos e comentários fofos eternos, mas eu tenho que falar a verdade. Estamos aplicando uma pedagogia reversa.
A coisa mais óbvia é a mania que temos de ensinar os nossos filhos a dividir os seus brinquedos e sua comida. Parece bonito fazê-lo, até correto, porém estamos ensinando errado. Se eles dividirem as coisas que mais amam em sua maturidade, tais como seu dinheiro, sua mulher ou mesmo um quarto de sua casa, no mínimo duvidaremos de sua sanidade. Mesmo assim, forçamos a nossos filhos a dividir aquilo que mais amam: seus brinquedos, sua comida, e inclusive os fazemos chorar para garantir que o façam. Fica a dúvida se persistirão com o erro até a fase adulta.
Depois, os ensinamos a sorrir e a rir constantemente. Ao passo que, se na sua vida adulta, se rirem de tudo, como gostamos que o façam nos primeiros anos de sua vida, com certeza questionaremos sua adequação. O certo é manter-se sério em todos percalços da vida. Ensinamos a imaginação, ao passo que, mais tarde, a maior parte de sua vida será ctrl c e ctrl v.
Crescem um pouco mais e os metemos numa escola, em muitas ocasiões de período integral, que em nada simula a sua vida posterior. Primeiro, estudam matérias que provavelmente nunca mais usarão na sua vida, depois lhe concedem notas fictícias que supostamente “avaliam” a sua capacidade. E muitos que foram bem avaliados neste sistema, hoje estão desempregados ou com um empreguinho público, enquanto que outros que foram mal avaliados frequentemente se tornam empresários ou gênios.
Aliás, a convivência “salutar” entre as crianças neste ambiente cria hierarquias que mais tarde se tornam inúteis. O fortão da sala muitas vezes se torna o mal ajustado, a gostosa se torna gordinha e aquela magrinha para quem ninguém dava bola vira top model. Depois, enfim, a faculdade, onde supostamente aprendemos uma profissão. Mas, a não ser que viremos professores ou pesquisadores acadêmicos, a faculdade não simula em nada o mercado de trabalho. É, enfim, uma grande brincadeira.
Vivemos um simulacro até, finalmente, termos que pagar as contas. Bloqueamos nossos filhos da realidade, quando podemos e o quanto é possível. Quem tem a educação mais “real” provavelmente são as crianças pobres que aprendem desde cedo o que é a labuta diária. Mesmo quando não trabalham, não têm as inúmeras facilidades e ludicidades que damos a nossos filhos e que depois simplesmente o mercado de trabalho e o aluguel lhes tirarão.
Mas é prazeroso brincar desta “pedagogia reversa” e não mudarei de postura. Quem sabe ensinamos a eles tudo errado e, enfim, acabam fazendo um mundo melhor?