Nós, pais, temos um ritual que compartilhamos com os indíos americanos e outros povos do extremo oriente: a festinha infantil. Já me explico. Assim como estas tribos remotas, temos uma necessidade de esbanjar para os outros pais. Reunimos todos eles e seus filhos e organizamos nosso “potlatch” paternal.
Potlatch? Marcel Mauss, antropólogo da época em que não se podia fazer antropologia no bar da esquina ou no condomínio do prédio, atentou para esta necessidade de chamar todo mundo e bancar a festança geral nas tribos norte-americanas. Logo viu que este é um costume que se repete em diferentes graus e de diferentes maneiras em todas as sociedades. Afinal, se temos grana para bancar um buffet infantil cheio de brinquedos, recreadores, comida e cerveja para todos, sem miséria, somos bem de vida. Desta forma, mostramos nosso poder ao restante da tribo. Tipo um cacique ou coisa que o valha.
Eu, como bom cientista social, fico observando este fenômeno. Neste caso, bem de perto, numa verdadeira observação participante. E meu filho participa também. Aliás, é ele o grande responsável por eu ter a oportunidade de comer estes salgadinhos e os hamburguinhos em tamanho moderado. Isto sem contar a cervejinha de graça. De quebra, o rebento ainda me livra da janta.
O único problema, claro, é que nunca se sai impune. Agora, o meu pequeno nativo fica me pedindo para eu fazer a festinha dele no recinto. E, pelos relatos, a tal brincadeira não sai nada barata. Há relatos de um pai que vendeu o carro só para fazer a festa do filho dele num buffet infantil. A solução, claro, é postergar ao máximo a tal brincadeira. Assim, quando chegar aos doze ele de repente esquece. Daí, pode até insistir, que o rapaz não vai querer.
Pai – Vamos fazer sua festa naquele lindo buffet infantil, filho. Afinal sempre foi seu grande sonho.
Filho – Como assim, pai? Eu quero ir para balada! Eu quero fazer na matinê da boate “Infernal”.
Pai – Você não acha que os seus amigos vão gostar mais do Babuska?
Pois é, assim me livro do buffet infantil, apesar de que dificilmente vou me livrar da tal matinê. Se é que isso ainda vai existir do jeito como nós conhecemos, até, vá lá, umas dez horas da noite. De repente, quando meu moleque tiver lá seus dez anos, elas vão terminar bem cedo, na manhã do dia seguinte. É quase trocar seis por meia dúzia da manhã. Como dizia dona Cecília, que já viu os filhos crescerem: “Filhos criados, trabalho dobrado.”
Mas pelo menos vamos ver se me livro de pagar o tal buffet. Por enquanto, é só festinha na escolinha. Ainda assim, tenho que pagar o refrigerante e o bolinho da criançada! No máximo, chamar a manada para bagunçar a casa, daí pelo menos dá para pedir uma contribuição da galera. Até porque, se pagar tudo sozinho, não sobra para o aluguel. Afinal, em breve serão duas crianças. Imagina: duas escolas, dois presentes de Natal e… tchanam… dois Babuskas. É Potlach demais para apenas um assalariado!