É incrível como a nossa memória pode nos surpreender… Não falo aqui das ocasiões em que ela nos falta, mas sim dos momentos em que a memória resgata fatos, sensações, situações, que pensamos esquecidos e, num rompante, está lá, lembrado. Digo isso porque recentemente passei por uma sensação rápida e avassaladoramente emocionante. Sem exagero!
Estava na biblioteca da escola onde trabalho a procura de idéias para uma atividade de redação para os alunos do 6º ano. Observando as lombadas na prateleira, folheando alguns livros, as propostas de cada um, até que, de repente, a capa de um livro em minha mão provocou uma suspensão da realidade. A viagem de anos que se seguiu na minha imaginação foi muito maior do que as frações de segundos de sua duração real.
De súbito fui transportado para a minha sala de aula da 5ª série.
Me impressionou como consegui visualizar a classe: as janelas, o quadro-negro, as carteiras, meu uniforme… Lembrei das aulas do Professor Waldir de português – um grande mestre. Claro que, naquela época, eu não o achava tão bom assim, até porque seu método já era retrógrado nos anos 80 – imagina hoje. Não posso dizer que deixei de aprender uma vez que, por exemplo, acredito que nunca tenha conjugado tantos verbos na vida. Fora as tarefas especiais que nada mais eram que exercícios extras de castigo para quem não fazia as tarefas de casa, ou era indisciplinado durante a aula. Recebi muitas! Mas não trato aqui de nenhum trauma.
Lembrei também de todo o sofrimento que tive devido à minha paixão por Marina, uma colega que se sentava atrás de mim. Aliás, ela fora meu amor durante todo o primário. Morria de amores por ela, passava quase todas as aulas virado para trás conversando e a admirando.
O mais maravilhoso foi abrir o livro e verificar que as imagens ali apresentadas não eram inéditas. Eu me recordava dos textos, das atividades, das ilustrações. Fiquei com vontade de roubar o livro para guardar a lembrança.
Tudo foi tão rápido mas assisti a quase um ano inteiro da minha 5ª série. Não me contive. Não sou dessas coisas mas fiquei com os olhos marejados. Como nossa cabeça guarda tantas coisas a que não temos uma consciência imediata e sem que saibamos que estão lá. E de repente, um objeto, uma fotografia, uma pessoa, um momento, resgata essa recordação “arquivada” e toda uma série de lembranças correlatas.
O que não é nossa memória senão uma caixa-preta sem fundo; ou um buraco-negro de nossas experiências e vivências que vez ou outra nos manda de volta alguma memória remota. Acredito que os psicanalistas tenham explicações muito melhores…
Que saudade da escola!
Paulo Roberto Laubé