Certa vez, estava na Rodoviária e entrei naquela livraria típica de rodoviárias (e aeroportos) que não para de crescer. São as livrarias de bancadas, que possuem muitos livros empilhados e poucas sessões, onde se encontra evidentemente os melhores tesouros. A baixa expectativa era relativa a já esperada proliferação de best sellers que não costumam, de modo geral, ser o meu ramo predileto de leitura.
Mas lá estava eu olhando quando me surpreendi. Dentre algumas outras pérolas, encontrei um livro sobre o Brizola. O nome é esse mesmo: Brizola, simples e objetivo. Conforme a capa acima, editado pela Paz e Terra.
Recentemente escrevi sobre o político, que durante algum tempo, antes do nosso breve milagre econômico, era a principal alternativa de esquerda do país. O livro foi escrito por Clóvis Brigagão e Trajano Ribeiro. Depois da leitura fiquei sabendo que foram companheiros do político, que poderia ser classificado como um jagunço sulista, no melhor sentido da palavra.
Antes de tudo, um breve resgate: Brizola teve algumas realizações brilhantes, principalmente no campo educacional. Antes da ditadura, quando era Governador do Rio Grande do Sul, construiu mais de 5.900 escolas. Ao retornar do exílio, como Governador do Rio de Janeiro, criou um novo conceito de educação, os CIEPs, que recentemente foi replicado nos CEUs em São Paulo. Mais muito além de suas realizações, esperava conhecer aspectos de sua personalidade, afinal assistir Brizola em cena era sempre uma surpresa.
Enfim, tinha grandes expectativas em relação ao livro, tanto pelo próprio político, quanto por tudo que ele representou para a esquerda, como alternativa real pós-PSDB. Ainda por cima, considerando a atual decepção com o cenário atual do que representou o PT em termos de governo. Porém, o livro se concentra em um período e em aspectos em geral que não refletem a importância de Brizola. Sua atuação durante a ditadura sem dúvida foi relevante, mas nada comparado ao que ele realizou antes e depois do período.
Aliás, mesmo durante este período, os autores focam em aspectos que cada vez tem menos relevância. Para muitos jovens atualmente, e mesmo eu, que já não sou tão jovem assim, pouco importa as manobras em reuniões intermináveis sobre pautas na Internacional Socialista. Aliás, no fundo, a política caminha para uma percepção entre o possível e o que a população deseja. Estes intermináveis debates sobre aspectos tão vastos como o posicionamento sobre a política dos Estados Unidos e o socialismo real estão cada vez mais ultrapassados. Claro que a reflexão e posicionamento são importantes, mas é cada vez mais urgente o posicionamento sobre a realidade que você vive, aqui e agora, e isto costuma ser mais transformador do que você refletir sobre um mundo que muitas vezes não te concerne.
Só para citar um exemplo, São Paulo faz muito mais para a política com seus acertos (e erros) para tornar a cidade mais “humana” do que a esquerda mais radical faz criticando em nome de um suposto progressismo as políticas do FMI ou dos Bancos internacionais. Aliás, este progresso de São Paulo só é possível por já ter sido adotado em cidades do mundo inteiro, mostrando que realizações costumam ter efeitos mais transformadores do que apenas as ideias, ou elas sozinhas.
Enfim, o livro continua tendo o valor acadêmico para quem deseja pesquisar sobre o personagem para pesquisas ou análises acadêmicas, mas não aconselharia para quem pode ou poderia se interessar pela figura política. E, assim que possível, vou procurar outras biografias do dito cujo.