

Acho incrível a origem das palavras, como elas chegaram a algum dia a despertar em alguém o que atualmente causam. “Incrível”, por exemplo, vem do crer, algo que simplesmente não se pode acreditar. Inacreditável, enfim.
As pessoas, sem dúvida, teriam mais em conta a palavra “decorar” se soubessem que a origem dela vem do coração. Sim, porque o “cor” no meio, perdido ali, vem do termo em latim que significa este órgão que mantém a vida pulsando. Em outras palavras, significa ter o conteúdo no coração. A origem é semelhante ás palavras acordar, cordial, recordar e mesmo coragem, que nada mais é que, um derivativo de coraticum, uma “ação do coração”.Alguém, porém, “entusiasmado” talvez esteja ainda além de alguém corajoso, afinal “está possuído por deus”, já que teo, em grego significava Deus, o que aliás pontua teologia, teogonia e outros tantos teos por aí, incluso os theos, que você provavelmente conheceu algum.
Mas nem sempre há muita nobreza nesta origem. Lembrando das aulas de história da minha sexta série, até hoje recordo de um professor de história que para explicar algumas das técnicas de punição da Idade Moderna, lembrava que o termo “enfezado” vem da época quando se colocava pequenos ladrões e baderneiros de primeira viagem em um barril de fezes em praça pública. Sem dúvida, a pessoa saia de lá “enfezada”. A tortura também nomeou a palavra “trabalho”, que deriva da palavra tripalium, um instrumento de tortura de três estacas de madeira onde a pessoa era estendida, semelhante a uma cruz.
A história também age na fabricação das palavras. Cesariana é associada a Julio Cesar, que supostamente teria nascido desta primeira operação na história. Os meses e os planetas, são nomes provindos de imperadores e Deuses : Jano, Februs, Marte,Aprilis, Julio, Augusto, Vênus, Jupiter e assim sucessivamente.
A “Igreja”, que nada mais é que um ajuntamento de pessoas, oferece “seminários”, que, ironias à parte, provêm de semente, ou mais precisamente, “sêmen”. Talvez uma mera coincidência para um péssimo hábito que perdura à séculos. Aliás, esta mania de utilizar termos sexuais é recorrente, abacate, por exemplo, é o termo asteca para testículos, talvez por lembrarem bolas gigantes. O mesmo se aplica as belas orquídeas, porém, provindo do grego, do termo “Orchis”.
Algumas origens de palavras também fazem pensar sobre questões mais complexas, tal como Mario Sergio Cortella bem lembrou, idiota tem a mesma raiz de identidade, ou ID, ou seja, alguém que se fecha em si mesmo e apenas cuida dos próprios interesses. Já político, vem de polis, como era nomeado as cidades na Grécia antiga, ou mais precisamente quem participava da vida da polis. Sim, de alguma forma, é uma boa pista para se pensar que a sociedade realmente precisa de um pensamento global.
Da mesma forma, problema, antes de vir de algo “problemático”, vem justamente de pró, frente, mais Ballein, se pôr à frente. Ou seja, encarar um problema, colocar sua cara à frente do problema, é, em suma, estar à frente dos demais. Da mesma forma, colocar à prova, que também se origina de “probo” significa algo “honesto”.
Saber a origem(origo, nascimento), nem sempre quer dizer algo extraordinário ou mesmo possua algum tipo de essência eterna(do latim, ato de ser), verdade (aletheia do grego, não oculto), mas pode servir para nos nortear no caminho para saber porque as palavras despertam sentimentos diversos, as vezes óbvios, e outras nem tanto.
Mas tem palavras que parecem que são eco eterno de si mesmas, amar vem do latim, e significa exatamente isso: amar. Assim como mãe, e que é por assim dizer, a “matriz” de tudo. Palavras tão naturais que conectam ou “religam” o homem à sua natureza, como a religião, graças a Deus, o “Ser Supremo”, ou mesmo a própria “natureza”, o nascimento de tudo.