Não vou narrar uma fábula ou feito heroico, mas certamente deuses encarnadores das forças da natureza e das condições humanas enquadram-se neste relato. Acontece que sou impelido à redação sem ter um norte, um objetivo claro para com o texto que necessariamente surge. Há fonte. Apenas o mito.
No entanto a musa incita, o impulso está lá, aqui, empurra a mão à caneta; está cá, ali, sussurra do âmago à mente, que sente o desejo irrefreável de saltar para fora. Da boca foge. Da pele, não pode. Dos olhos, sacode, desvia, cega. Da mente a mão em códigos numa narrativa turva de significação simbólica desenha-se, talvez a fábula se realize. Apenas omito.
De fato, tem-se a representação de fatos e personagens reais inspirados, instigados, fustigados pela imaginação em meio a sacrifícios (de estilo) para soar verídico aquilo que verifico, dou veredito, todavia somente ventilo entre vírgulas censuradas aquilo a que viso. A narrativa toda vira castigo… As penas, omito.
Duras penas este viver a narrar sem narrar o viver, ainda que viva essa angústia. A verve sentida é contida, transmitida com vileza à pontiaguda em traços marcantes e cortantes ao íntimo ímpeto entre estas grades horizontais no papel. Esfacelo a fábula em ínfimas fatias fáticas. Da volição vulcânica, a face lívida afana toda ebulição. Fumaça. As penas, o mito.
Com oculares rasgadas precisamente furtivas e cercada de mirtos, encerras o trágico. Como portas o arco e a lira, armas e rosas, perigo e perdição, lugubridade e lascívia? Eras tu, Érato, que derramavas em lavas esta narrativa. Inspiro e não respiro. Queimo.
Apenas Mito.