José Carlos Barroso, o Barrosinho, foi um dos maiores expoentes do jazz brasileiro. Não aquele certinho, comportado, que muitas vezes vemos nas jam sessions supostamente sofisticadas, mas o arretado que vai do freestyle ao baião.
O primeiro contato que tive com ele foi no Mayo, hoje luthier e enteado do Tomaz Improta, tecladista que tocou com alguns dos maiores expoentes da MPB. Estava dormindo em sua casa, na Rua Monte Alegre, se não estou enganado, em um dos cômodos improvisados de estúdio que tinha umas almofadas confortáveis espalhadas no chão. Os músicos entraram e não se incomodaram com minha presença. Estavam em seu território, simples assim. Eu tampouco me incomodei com a deles. Inclui o seu repertório feito ao vivo no estado semi-desperto e assim permaneci até o final do ensaio. E foi lá que lembro de ter visto Barrosinho pela primeira vez.
Bem mais tarde, voltei a vê-lo na Lagoa acompanhando uma banda de jazz. A partir de então, não tive dúvidas, pegava minha bicicleta e pedalava até o local para poder acompanhar o Miles Brazuca periodicamente com seus solos divertidos de temas variados, que iam da música brasuca ao jazz americano. Ao frequentar as tímidas jam sessions da cidade, volta e meia encontrava com o expoente.
Barrosinho foi a primeira lembrança que tive quando ganhei do Alexandre Palma o livro Movimento Black Rio. Qual foi minha surpresa desvendar que o dito cujo movimento abrangia um universo muito maior do que a banda em si, que conhecia por meio da história do trompetistas e que pelas conjunturas e forças do universo, foi justamente o movimento que foi responsável por reuniu um naipe de músicos de primeira linha- a Banda Black Rio. Veja você, por uma verdadeira necessidade de um pungente mercado que se revelava sedento por novidades.
O livro em si apenas citava o músico, mas não desenvolveu sua trajetória, como fez por exemplo com Jamil e Oberdan, talvez por ambos terem tido papéis de liderança maior na big band dançante. E também pelo foco do relato, que buscava a experiência de massa que lotava clubes e casas de show para colocar as pessoas, muitas delas, para dançar. Inclusive, em pesquisa na internet, li que Barrosinho não gostava de se lembrar da experiência na época. Talvez seja algo próprio de sua personalidade, visto que não gostava de acompanhar outros músicos famosos e, pelo que é relatado, preferia projetos pessoais por ter maior liberdade de criação.
Talvez por essa veia autoral jazzística, foi convidado para realizar um show na famosa Montreux em 1988, meca do jazz internacional onde se apresentaram alguns dos maiores expoentes do gênero. Mais tarde, foi responsável pela criação da experiência musical Maracatamba. Muito mais que uma mistura do samba com o maracatu, o gênero se pretendia um terreno livre para experiências musicais, que 20 anos mais tarde derivou no seu último álbum, O Praça dos Músicos.
Engraçado que a leitura do livro tenha acendido a memória deste personagem, mesmo que mal tenha dedicado linhas para esse ícone do jazz carioca. Utilizo a lacuna do livro para meu próprio preenchimento. Se a música pop foi diretamente influenciada pelo movimento, o jazz brasileiro, ou ao menos o carioca, também teve sua gratidão ao movimento. E um desses expoentes, certamente, foi Barrosinho.