Sou brasileiro e com orgulho. Sou do país que teve figuras como Paulo Freire, Machado de Assis, Luiz Gonzaga, Hermeto Pascoal, Nise da Silveira, Elis Regina, Maria Quitéria, Chiquinha Gonzaga,Vinicius de Moraes, Castro Alves, Joaquim Nabuco, Oscar Freire, André Rebouças, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Cartola, Tom Jobim e tantos outros.
Temos brasileiros horrorosos também, é verdade. Mas tem franceses, alemães, japoneses, russos, americanos, italianos, belgas horrorosos na história também e hoje em dia. Não foi um brasileiro que criou o fascismo, dentre os criadores, está o famoso italiano, Mussolini. Não foi um Brasileiro que restabeleceu a escravidão nas colônias americanas e tampouco assassinou cruelmente 100 mil negros no local, foi o francês Napoleão Bonaparte. Não foi um brasileiro que decidiu soltar a bomba atômica, foi o presidente americano Harry Truman. Não foi um brasileiro que deu a ordem para massacrar cerca de 200.000 chineses, foi o imperador japonês Hirohito. Dos alemães, não precisamos nem falar ,né?
Mas se hoje, todos reconhecem os esforços que cada um desses países fez para que coletivamente se tornem melhores, pouco se fala por outro lado que as empresas e indústrias desses países parecem não ter a mesma avaliação. Afinal, foram empresas francesas como a Alstom e alemãs como a Siemens que corromperam o Estado de São Paulo nas licitações do metrô. Se tivemos grandes construtoras brasileiras citadas na Lava Jato, também tivemos a coreana Samsung, a inglesa Rolls Royce a holandesa SBM, a italiana Techint e a sueca Skanka. As mineradoras canadenses tiveram a informação que extinguiria as reservas brasileiras antes do anúncio oficial. Detalhe: 5 meses antes. Isso apenas falando de Brasil, se analisarmos retrospectivamente na história, lembraremos de outros casos de grandes empresas desses lindos países apoiando atrocidades ao redor do mundo.Algumas nasceram para servir o nazismo, o facismo e o expansionismo americano.
Ok, estamos falando de empresas, mas e as pessoas? Bom, se somos o país da prostituição infantil, uma parte importante desse mercado é composto por estrangeiros, notadamente europeus que se aproveitam da fragilidade de nosso país para fazer aquilo que eles não fazem no deles. Este obviamente é apenas um exemplo extremo, mas diversos estrangeiros – europeus, americanos e orientais -rapidamente incorporam hábitos vivenciados aqui logo depois de saírem de suas comunidades, sem muita reflexão. Já vi japoneses estacionando em lugares proibidos e protestando contra o meu protesto de que estavam errados, um holandês flanelinha e europeus aplicando golpes em brasileiros.
De todo o modo, é frequente o hábito de quando nos referimos a eles, não o fazermos a partir de generalizações, tipo “alemãozinho é foda”, “japonesinho, hein, num presta”. Assim como, quando vemos grandes problemas recorrentes internacionais com outras nações, como os tiroteios em escolas nos EUA, os jornais locais fazem de tudo para não apontar o elefante na sala. Sempre são pessoas doentes, individualmente, sem afetar o orgulho nacional. Ainda que estatisticamente é óbvio que um problema coletivo exista. Ao passo que basta um árabe fazer o mesmo que a primeira reação é generalizar a partir do terrorismo.
Ou seja, qual é o papel de generalizar um povo atualmente? Frequentemente reduzi-lo a uma característica perversa, quando sabemos que uma coletividade, mesmo com suas idiossincrasias, tem uma pluralidade que extravasa qualquer generalização simplista. Porém, o mais engraçado em relação a nós, é que não temos o costume de generalizar outros povos, como frequentemente observamos, mas nós mesmos.O velho e recorrente complexo de vira lata. Por que?
Existem inúmeros motivos é verdade. Difícil apontar todos eles numa crônica curta que tem como principal objetivo simplesmente apontar o óbvio, mas arrisco a dizer: qual é a maior de todas? A terceirização das responsabilidades. Isso é um traço muito particular de nós brasileiros, incluso eu, sempre tentarmos achar culpados externos pelo que vivemos coletivamente. No fundo, acreditamos que estamos aqui só de passagem, como se fossemos estrangeiros de nossa própria pátria. Se muitos de nós são exemplos de como empreender e vencer nas adversidades, por outro lado, temos uma dificuldade de criar lideranças politicas não inseridas no ciclo vicioso da nossa politica. Por que ela não foi construída visando a comunidade, mas algo que está além dela. E, sim, também é nossa responsabilidade.
Os melhores entre nós preferem brilhar sozinhos, e com toda razão. Mas se conseguimos em outras tantas carreiras ter sucessos individuais, por que não empreendemos no principal desafio da nossa nação, que é isso mesmo, ser um nação? Talvez porque é mais fácil não ser brasileiro e simplesmente terceirizar as mazelas do nosso país para os outros, os bárbaros, esses que estão a alguns quarteirões da minha casa, talvez ao lado, e não reconhecer que todos nós somos responsáveis pela nossa rua, nossa comunidade, sociedade, país.
Há quem possa se destacar e ser um líder nesse cenário, vamos reconhecer os esforços e sermos receptivos com novas lideranças, mas principalmente vamos exercer a política no dia a dia, pedindo para que as pessoas não ponham lixo fora do horário, emitindo nossa opinião com respeito, nos envolvermos com as pequenas e grandes questões cotidianas. Mas, principalmente, não generalizarmos responsabilidades individuais. Se alguém cometeu um mal feito, ela deve responder com nome, sobrenome CPF e se defender diante do tribunal. Chega de cairmos em nossa armadilha coletiva de não enxergarmos como uma sociedade, com todas as complexidades e deveres que isso acarreta.
Chegou a hora de todos assumirmos a responsabilidade mais básica de todas em uma nação. Eu sou brasileiro, com toda a delícia e a dor que isso traz. E você?
3 Comentários. Deixe novo
Pois é… somos brasileiros. Essa síndrome do “vira-latas” bate forte mesmo em vários momentos da nossa vida. Me parece ser mais que um fantasma histórico essa síndrome, me parece ser algo construído para que nunca cumpramos nosso objetivo de ser uma nação verdadeira. Sempre que “dá merda” nosso subconsciente vem e nos lembra dessa patologia. Fica nossa obrigação de mudar isso nas gerações futuras.
O ponto é que me parece que as pessoas de outros países não precisam se afirmar a todo o momento. Tem gente boa e ruim em todo o lugar e isso é responsabilidade de cada um. Entendo que houve uma grande frustração nos últimos anos. Espero que olhando em retrospectiva nos fortaleça como pessoas e como nação. Afinal ainda estamos costurando isso de ser brasileiro.
Helo!, sou brasileira, moro no estado do Tocantins, e estou mim programando para estudar em Londres.
Gostaria de conseguir uma acomodação, que fique disponível para mim durante o período de um ano.
E-mail: ivoneide001@hotmail.com