Ao escrever sobre Corrosão, fico tentado de falar sobre Ricardo Labuto Gondim. Ninguém tira da minha cabeça que estamos diante do próximo clássico da nossa literatura. E quando digo clássico, não mais me refiro ao escritor daquela literatura que de alguma forma se convencionou a se escrever por essas partes. Entre o Brasil profundo e a esquina do escritor, quiçá uma “Literatura Popular Brasileira”. Sem desfazer-se de toda a nobre escrita produzida de norte a sul do país desde José de Alencar até os nossos romancistas urbanos, porém de alguma forma os ecos dessa identidade talvez já não encontram mais tantos leitores para reverberarem. Precisamos de novidades.
Por isso, Ricardo Labuto Gondim significa muito mais do que talvez possamos supor para nossa literatura. Ou talvez não, mas apenas vislumbrar isso, ter esperança, já é instigante demais para ser ignorado. Ocorre que temos um autor que não se furta de explorar todas as possibilidades literárias, dos contos em looping narrativos metalinguísticos, passando pelos anos 40 no Brasil com uma linguagem noir, até chegar no futuro do pretérito em Corrosão . Fico imaginando sua próxima aventura literária.
Futuro do pretérito talvez seja a melhor forma de contextualizar onde se passa seu novo romance que poderia ser definido como ficção científica se as definições fossem suficientes. Ocorre que há muito mais lá do que somente um aventura espacial passada em um futuro distópico – ou quiçá utópico – quando a humanidade busca a redenção por meio de uma razão superior da qual não possui mais controle. Encontramos suas reflexões filosóficas, teológicas e musicais, como sempre, em prol de uma narrativa que vai pouco a pouco se construindo até tirar o fôlego. Sabe aquela hora que você economiza páginas para não encerrar o livro? Sim, tive o prazer de reviver isso.
Alguns dos grandes dilemas da humanidade atuais como inteligência artificial, singularidade, consciência e até humanidade servem de pano de fundo para – mais uma vez – um looping entre oposições clássicas como passado, futuro, consciência, emoção, destino, acaso e tantas outras que talvez apenas o autor poderia elucidar. É significativo, ao menos para mim, que uma obra de ficção científica possa transcender a si mesma de tal modo que conquiste o mais alto grau de literatura. E talvez seja uma falha pessoal, sinto-me um ignorante e atesto minha falha com grande felicidade. Todo um campo literário se abriu repentinamente, assim como tantos outros. A literatura é ainda mais vasta que a vida, afinal pode transcender o tecido da realidade utilizando todas as tintas das possibilidades e impossibilidades que estão contidas dento de um escritor. Que extraordinário!
Creio que não seja novidade. A arte cada vez mais busca novas fronteiras. Os filmes de heróis atingem dramaticidades que antes eram restritas aos públicos dos quadrinhos, um músico ganhou o prêmio Nobel da literatura, obras de ficções inspiram criação de novas tecnologias e os games –sim, por que não? – se tornam mais complexos, ricos e divertidos. E um autor brasileiro, sim, pode ser um grande expoente da literatura de ficção cientifica. Ou não, porque pelo que conheço do autor, muito em breve, fará uma viagem literária para um universo qualquer completamente diferente do seu livro anterior – e isso é extraordinário.
Mais uma vez, e cada vez mais, aguardo ansioso para o próximo livro de Ricardo Labuto Gondim, O que será que esse cara ta tramando agora?
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Sempre preciso!
Opa Marcella,
vc chegou a ler? Recomendo
bjs