O inverno para um brasileiro, parafraseando Neymar, é um tempo de saudosismo de algo que ele nem conhece. Talvez por isso, num país majoritariamente tropical, muitos locais gostam de se vangloriar de suas raízes europeias. Nessa hora vale de tudo, até português que tem aquele pé, mão, braço e bigode na África e no Oriente Médio e, a rigor, praticamente todos somos parentes. Deste modo, pelas nossas raízes europeias comprovada pela árvore genealógica do seu tio ou da sua tia de segundo grau, o inverno é motivo de alegria.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o inverno é a melhor época. Ano passado não teve, mas no retrasado caiu numa quarta-feira. São Paulo já pode dizer que tem a sua estação, propriamente dita. Hoje mesmo, cerca de 9 horas da manhã, os termômetros marcavam 15 graus perto do Parque da Aclimação – um frio danado. Senti-me até no feliz verão de Londres atravessando a Abbey Road ou numa praia no Canadá curtindo com os amigos refugiados naquela terra sem Deus – leia-se sol. Afinal, vamos combinar, em toda a mitologia o deus do bem é o deus sol não é verdade? Ou, vá lá, antes que algum antropólogo muito bem informado me refute, pelo menos o mais poderoso.
Se a chegada do inverno tem algo de bom, são os festivais de inverno. É tempo de abrir os armários para exibir suas roupas que ficam guardados a maior parte do ano e se refugiar em alguma cidade simpática serrana com ruas e casas de estilo europeu cuidadosamente preservadas – nessas horas vale até copiadas – para você voltar àquelas míticas raízes. Sabe aquele casaco que você comprou para esquiar em Aspen? agora é o momento de resgatá-lo, afinal você pode nunca mais ter essa oportunidade, visto que o dólar ta lá na casa dos quatro reais.
Em São Paulo, você pode desfilar por Campos de Jordão, para respirar um pouco dos ares dos Alpes Alemães, ainda que ela tenha sido fundada por… portugueses. O clima montanhês foi ideal para fazer o nosso próprio parque Europeu temático com casas em estilo alemão, cervejas especiais, chocolates e vinhos, enfim uma espécie de Disney para milionários, digamos. É um pouco cara, é verdade, mas você pode encontrar oportunidades incríveis, como comprar uma rua inteira por R$ 170 mil. Isso, claro, se você for amigo do prefeito, como o Dória, mas isso fica para outra crônica. Na carência, você pode se hospedar em Santo Antônio do Pinhal e ir à noite para curtir de noite o frisson de Campos ou invadir as cidades do sul de minas, que viraram o refúgio da paulicéia em busca da parte que lhe cabe de um clima alpino, cervejas especiais e comidinhas, ainda que com sotaque mineiro.
Já no Rio, o carioca se exila em Petrópolis ou Teresópolis e revive o último refúgio da nobreza carioca. As cidades são conhecidas por serem uma das únicas onde você pode em alguns dias do ano tomar vinho tinto em temperatura ambiente – é sério, só os cariocas ainda não aprenderam. Foi por isso que a família imperial resolveu fazer a sua casa de férias – uma humilde habitação com algumas dezenas de janelas e um modesto jardim – e até incentivaram os alemães a colonizarem o local para se sentirem mais, digamos, europeus. Sim, não é só você diferentão que ama o frio, essa mania já vem pelo menos desde o Império. Já para o pessoal mais bicho grilo tem a opção de ir para Lumiar lá em Nova Friburgo onde você pode reviver a Europa dos anos 70, tomar uns cogumelos , compor umas músicas, fazer a sociedade alternativa e, se der tempo, ainda comprar umas calcinhas.
Se você pensa que os nordestinos não tem esse privilégio, está terrivelmente enganado. Na Bahia, o Festival de inverno ocorre em Vitória da Conquista, além de outras cidades próximas, lá o termômetro chega a marcar 7 graus, temperatura para fazer alguns cariocas se morderem de inveja. Em Pernambuco, tem também a sua região serrana, com cidades como Garanhuns, Gravatá e Triunfo. Até o Ceará tem a sua serrinha que chega lá pelos 15 graus o que convenhamos, para um nordestino é praticamente uma Sibéria. Lá eles tem até um festival de jazz para chamar de seu.
A Meca desse tipo desse passeio “mini-europa” no Brasil é , claro, o nosso sul maravilha. Tanto o Paraná, quanto Santa Catarina tem diversas cidades. E olha, elas nem precisam estar na serra! Joinville, por exemplo, está apenas a 4 metros de altitude, enquanto Blumenau fica a 11 metros em média. A única diferença é que a época boa para ir para lá é em outubro na Oktoberfest, para encher a cara com as mesmas cervejas especiais que hoje você encontra em qualquer esquina. Enfim, tradição é tradição. Obviamente, a estrela dessas genuínas representantes das nossas raízes europeias é a serra gaucha. Aliás, em Gramado você pode ter um natal típico europeu, com o seu quinhão de frio, Papai Noel vermelho e decoração natalina – igualzinho a Europa… não, perá, você entendeu.
De fato, esses passeios são edificantes e trazem um pouco daquela ancestralidade européia que todos nós brasileiros temos segundo àquela tal tia citada anteriormente. Mas convenhamos, com os novos tempos, a Europa logo sairá da moda. Iluminista demais, né? Muita cultura, pintura, artista, ciência, socialismo, aff. Os Estados Unidos é a nova tendência, em especial aquelas regiões mais avançadas como a Virginia e o Texas. Em breve, se der tempo no próximo verão, poderemos até passear por uma reprodução o mais fiel possível do Velho Oeste – onde todo mundo pode andar armado, duelar com seus inimigos e não existem regras de trânsito. Que civilizado!
Posso repetir o Neymar? Que saudades disso tudo que eu nem conheço!
3 Comentários. Deixe novo
Era ironia…
Mas gostei
Era ironia…
Mas gostei
Muito bacana,ainda mais nesse momento onde o humor é mais que necessário.