

No atentado de 9 de setembro de 2001, estava com um amigo. Quando vimos na tv, acreditávamos que se iniciava a terceira guerra mundial. Parecia que o ataque ao Afeganistão seria a confirmação de tudo aquilo. Confesso que a sensação que me deu foi um misto de terror com um certo entusiasmo de finalmente viver um tempo de grandes acontecimentos – quiçá uma mudança do centro do poder mundial. Pela reação de colegas, muitos compartilhavam o mesmo sentimento.
Porém, mesmo com as condenações das Nações Unidas, nenhum outro povo quis se aliar ao pobre país, sequer houve uma sanção digna de nota aos EUA. Mais até, foi apenas uma questão de tempo para descobrirmos pelo noticiário que não se tratava exatamente de uma guerra, mas de um massacre. Apesar das raras baixas americanas – toda a morte é digna de lamento, do lado que seja – era praticamente um passeio em território afegão. Não demorou para o desânimo mais ou menos contente se prolongasse e as notícias pouco a pouco ficassem cada vez mais mornas. Até o dia que a guerra virou ocupação, que dura até hoje.
Mas óbvio que aquela expectativa pela terceira guerra mundial latente continuou. Quando Bush resolveu invadir o Iraque para salvar os republicanos no poder e oferecer novos campos de petróleo para as petrolíferas que o financiavam, unindo o útil ao agradável, a “terceira guerra” renasceu. Enquanto anunciava ao mundo que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa nunca encontradas, iniciavam o novo ataque.
Mais uma vez nós, profetas do apocalipse, conclamamos: “agora sim, tá vendo? Vamos ter guerra mundial!” Obviamente o palpite não se concretizou. Como um filme repetido, os possíveis algozes não resolveram arriscar a estabilidade mundial por um ditador um tanto patético. Mesmo assim, aquele antiamericanismo juvenil ainda torcia para maiores dificuldades para as tropa americanas. “Está pensando que vai ser fácil? Ora, o Iraque tem um exército muito maior do que o Afeganistão, tanques (brasileiros, inclusive, veja você) e blá, blá, blá.” Bom, qual foi a decepção quando mais uma vez em questão de semanas já se via que eram favas contadas. Acontece que um exército repleto de cidadãos insatisfeitos e oprimidos vale pela metade – se tudo isso. Resultado? Em menos de um ano era finda a guerra e Saddam Hussein estava preso e. 3 anos depois, executado sob as leis recém fabricadas locais.
Pois bem, mais de 10 anos depois vejo o mesmo alarmismo – e uma ponta daquele otimismo rebelde – que a terceira guerra está próxima. Ah o Irã, “eles tem mísseis, tanques e um exército que chega a meio milhão”! Ora, nada de novo no front. Tudo pode ser diferente? Claro que sim e talvez estejamos nos aproximando do apocalipse. Mas sinceramente, acho que já vi esse filme. Sabemos que Trump, uma versão piorada de Bush – quem diria? Almeja permanecer na Casa Branca mais quatro anos e,como a economia está lá mais ou menos, precisa de uma guerrinha para acirrar os ânimos. Enquanto isso, o resto do mundo pode até fazer o seu showzinho, mas se a coisa descaminhar, a manutenção da estabilidade de seus países é quase certo que vai aquietar ânimos – isso se eles forem genuínos. Para que uma China, que está ganhando e em poucos anos será a grande potência mundial, vai querer se meter numa guerra contra os EUA? E a Rússia, ainda que talvez mais ameaçada, porque se arriscaria por um aliado um tanto imprevisível?
Resta apenas saber se a guerra, de fato, vai acontecer e uma vez iniciada qual sua repercussão. É possível e até provável que nem isso ocorra, paradoxalmente numa relação igual ao potencial devastador que ela pode ter para ambos os lados e não apenas para um, diga-se. Ambos já estão mais ou menos contando suas vitórias. Agora, mesmo que ocorra, ainda que afete mercados, preços e pessoas, as maiores vitimas com certeza vão ser os iranianos e um ou outro soldado americano que entrou de gaiato, em especial aqueles que não tem nada a ver com isso.
A única novidade talvez seja assistir a primeira guerra da era das fake news globais. E, claro, as lives do nosso presidente acompanhando os pronunciamentos do seu ídolo enquanto emplaca a sua piada da semana – isso sim, absolutamente inédito.