Recentemente me deparei com esse texto aqui Reparo doméstico deveria ser matéria obrigatória na grade curricular das escolas e me identifiquei: talvez tirando trocar lâmpada e sifão, não sei fazer muita coisa não! Algo curioso é que mesmo com atuações distintas, eu e a autora, Anelisa Lopes, temos muito mais em comum além de não saber fazer reparos domésticos: fomos da mesma turma tanto na escola como na faculdade de jornalismo.
Concordo que poderia ter uma matéria “Reparos domésticos” nas escolas, mas quem ministraria? Com que credenciais alguém poderia abraçar essa empreitada: ser “dona de casa” talvez? (Eu e as expressões complicadas…) Será que existe um modelo de dona de casa padrão? Ou talvez ter décadas de experiência “do lar”? A parte do “recatada” fica para outra ocasião! Talvez ser pedreiro/pintor/encanador? Poderia ser um salto no prestígio desses profissionais. Não, espera… Professor não tem prestígio. Eu e minhas ilusões.
De repente aqueles que possuem experiência comprovada – sem indicações falsas no currículo porque isso é critério para ir para o ministério, até mesmo o da Educação – como zeladores, manutencistas, os “faz-tudo” podem assumir esse cargo. Provavelmente ao longo do curso, teríamos os módulos de “como dar um jeitinho” e o das “gambiarras que funcionam”, mas cest la vie.
Por outro lado, a partir de que idade a matéria “Reparos domésticos” seria inserida na matriz curricular das escolas? Fiquei pensando nos meus filhos, com quem tenho passado praticamente 24h por dia todos os dias desde que começou o isolamento, e acho até que em todas as fases da infância existem possibilidades de iniciar essa aprendizagem.
É, em casa rola um trabalho infantil! “É atividade!”
As crianças lavam louças eventualmente quando há coisas plásticas e quase inquebráveis, às vezes tiram o pó dos brinquedos do quarto, dos móveis… claro que eu fico assessorando e meu filho de 2 anos não faz quase nada, mas minha menina, com quase 5 anos, já faz. E ainda acham que é brincadeira!
É bem verdade que já fiz eles varrerem chão também, porém não recomendo esta atividade nas idades do “terrible two” ou do “fucking four”: mais levantaram e espalharam a poeira que qualquer outra coisa! Além de que rapidamente as vassouras se transformaram em espadas…
Voltando à questão da matéria “Reparos domésticos”, acredito ser válido ressaltar que reparos elétricos e hidráulicos poderiam ficar para o ensino médio! Eu sempre me borro de medo de mexer em fios, instalar chuveiro… Que vergonha!
Por outro lado, justamente pelo que já fiz com minhas adoráveis crianças que adoram um MMA infantil, pensei: quanto desses reparos domésticos não deveriam ser ensinados em casa pelos pais mesmo? Será que à escola cabe também essa demanda?
Se pensarmos no ritmo de vida a que somos obrigados: temos que dedicar quase 15, 16 horas do nosso dia na venda da nossa força de trabalho, de modo que criar/cuidar/educar os filhos forçosamente se delega em parte à escola. Então sim, “Reparos domésticos” nas escolas! E eu conseguiria me livrar da responsabilidade de ensinar muitas coisas que não sei a meus filhos.
Aí é que está, se houvesse um sistema de trabalho com aquela divisão do dia em 3 períodos: 8h de trabalho, 8h de lazer, 8h de descanso, não, a escola não precisaria dessa demanda. O problema, a meu ver, não é nem a ausência dessa matéria em qualquer fase escolar ou da infância, nem a ignorância dos pais como eu em vários serviços domésticos, mas sim a cabal falta de tempo para dedicar ao lar, à família e aos filhos decorrente do ritmo de vida que levamos, mais precisamente, da demanda de tempo que se dá ao trabalho para sobreviver. Não que as pessoas deem o seu tempo assim de bom grado, né, convenhamos, fazemos isso por necessidade de garantir um mínimo: mais vale um na mão, que muitos voando por aí.
Se bem que aquele ex-governador, o que diziam “Santo” em pecado, há uns anos declarou que professor trabalha por amor… Será que estou odiando demais?
Se houvesse menos disparidade salarial e melhor remuneração básica para todas as carreiras e também um sistema de seguridade digno para todos, né, “Posto Ipiranga” do presidente, em que as pessoas não precisassem se submeter a tanta exploração ou a tantas horas de trabalho para sobreviver até morrer, não, aí não seria necessária a matéria serviços domésticos nas escolas.
Ai caramba! Esse texto está contaminado! Vieram de carona vírus marxistas! O gabinete do ódio vai tachar de comunista!
De mais a mais, como bem lembrou um amigo meu, hoje se acha tutorial de qualquer coisa na internet, só não aprende quem não quer. É, talvez eu não queira mesmo…
2 Comentários. Deixe novo
Adorei, Paulo!!! Claro que me identifiquei com a situação pois minha inabilidade para muitas situações tb é gritante. No que tange então às habilidades taxadas de “femininas”, sou como o zero à esquerda. Confesso que até tentei, mas nada saiu. Hoje sinto me insultada pelas crocheteiras, tricoteiras, costureiras e cozinheiras que exibem sua produção nas redes sociais. Parabéns!
Se nas ditas habilidades “masculinas” já sou limitado, nem vou comentar a respeito das tidas como “femininas”…