

As pessoas não se deram conta – ou deram, o que pode ser pior ainda, mas como no Brasil sempre se cava o fundo do poço, da fossa… – do quão perigosa é a frase-título desta pretensa crônica. E ainda defendem e repetem tal enunciado à exaustão, principalmente a partir de 2018, ano da última campanha eleitoral presidencial do lamaçal brasileiro. Esse eco aí na frase anterior foi para mimetizar o nosso “complexo de vira-lata”!
O que é o liberalismo? Longe de mim querer tecer qualquer explicação a respeito, sou mais das palavras… Liberalismo com certeza carrega o radical de liberdade, liberar, livre, e outras. E aqui já temos um enorme problema, ou deveríamos, né, se não fôssemos aquele povo cavando e blá blá blá. Acontece que os principais autores e nações que defendem e pretensamente aplicaram as tais ideias do liberalismo foram extremamente autoritárias e anti-liberdade.
Para não ficar no já gasto exemplo do fascismo de Mussolini e Hitler que só alçaram os terríveis voos que conhecemos por conta do apoio e das bases liberais de seus discursos do ponto de vista econômico, cada um teve seu “Posto Ipiranga”, peguemos Inglaterra e Estados Unidos onde se forjaram alguns dos principais teóricos do liberalismo. Ambos passaram séculos vomitando liberdade na economia, o mercado livre para se regular, o laissez-faire, o self-made man, ao mesmo tempo que por esses mesmos séculos esmagaram qualquer vaga hipótese de liberdade para negros oriundos da África, seja no tráfico, seja nas lavouras. E nem vou me alongar nisso: a contradição está posta.
Mas avancemos para a próxima palavra significativa da tal frase: economia. Todos sabemos que economia vem do grego (caso não saiba, uma pesquisa rápida em qualquer destes buscadores resolve) e resgata a noção de gestão ou administração da casa, do lar. Logo, podemos dizer que “liberal na economia” devesse significar que cada casa, ou cada indivíduo é o gestor de sua vida e de seu lar, de forma a administrar como bem entendesse seu “habitat”.
Assim sendo, embora tenha se tornado o nome de uma ciência – que não entra na minha cabeça – como podemos considerar uma pessoa, uma moradia (ou uma nação) “terrivelmente evangélico” liberal? Nada contra cristãos de qualquer corrente, porém é notório quanto muitos propagadores dessas religiões são castradores e condenam muitas liberdades, inclusive as individuais que eventualmente se restringem ao âmbito do lar. Traduzindo ainda mais, se o cara quer liberar seus desejos mais recônditos para pagar o aluguel do seu apê ou simplesmente porque gosta, o que o tal liberal tem que latir!?
Só um parênteses, claro, ainda não entendo como o Novo (velho) não foi para o segundo turno naquela eleição… TanTos Têm diTo Ter voTado nele e não no capeTão, digo, capiTão – é o corretor automático. Perceberam a aliteração das linguodentais surdas: tá tá tá? Entenderam? Capitão, arminha? Poxa, esTou TenTando… E no frigir dos ovos, o Novo é só o novo PSDB, escancarado, nada mais.
Seguimos.
Conservador? Que as pessoas não sabem diferenciar o que é conservadorismo e autoritarismo, e ser direita ou ultradireita é evidente. De todo modo, conservar vem do latim guardar, manter, preservar, ou seja, seria fazer algo continuar sendo como é ou está. Então, podemos dizer que se alguém é homossexual mesmo que ainda não revelado ao mundo exterior, de fora sua casa, um conservador defenderia que essa pessoa permanecesse homossexual, sim? Será que vou cair em uma falácia lógica?
Bom, juntando, “conservador nos costumes”. Se partirmos do pressuposto de que vivemos sob a égide do patriarcalismo, machismo, racismo, homofobia, feminicídio, violência doméstica, abismos sociais, acho que já dá para parar, né?, não é errado entender que enunciadores da frase-título querem que todas essas manifestações de comportamentos sócio-culturais se mantenham. E essas pessoas muitas vezes se autodenominam cristãos, afinal essa é uma fala comum aos seguidores dos ensinamentos do Jesus bíblico. Aquele do servir ao próximo, aos pobres e desvalidos, aquele que defendia a redistribuição de renda, tem até uma parábola sobre quem doa mais, lembram? Quando ele afirma que a viúva pobre foi quem mais doou? Pois é.
Com base em tudo isso, o que quer dizer ser “liberal na economia, conservador nos costumes”? Acredito que seja algo como: sou classe média e/ou alta e quero um governo autoritário o suficiente para diminuir a concorrência para meus arroubos empreendedores, ao mesmo tempo que controlo os desejos e corpos dos outros para que suas insatisfações sejam canalizadas em consumos daquilo que quero vender. Não sei, fez sentido?
Paulo Roberto Laubé
PS: este texto contou com consultoria do amigo professor de História Geraldo Vidal!