Certa vez, tive o privilégio de conhecer e trabalhar com um palhaço chamado Fuska. Seu traço é facilmente reconhecível, a começar pela barriga protuberante e seu rosto redondo que cultiva uma ingenuidade que falta aos novos palhaços. Sua formação circense é clássica, o que explica seu humor simples e irresistível e uma curiosidade: apesar da aparência, Fuska é um verdadeiro halterofilista. Em alguns de seus espetáculos exibe sua força ao levantar duas ou três pessoas durante seus números.
Apesar de abdicar facilmente do humor verbal, Fuska também é um excelente mestre de cerimônia. E isso provém provavelmente do tema que gostaria de abordar na croniqueta. Ocorre que Fuska era de família evangélica e foi preparado para ser pastor. Pelo seu relato, tinha bastante talento, mas de alguma forma sua trajetória enveredou para a arte. Hoje temos um excelente palhaço. Graças ao senhor!
O fenômeno não é exclusivo. Faz bem pouco tive contato com uma colega de escola que se declarava evangélica. Sempre foi uma excelente pessoa e exibia um eterno sorriso no rosto, mas fazia questão de propagar sua fé e chegou a converter um ou dois da classe. Recentemente, no grupo de Whatsapp da antiga turma, convidou com orgulho as pessoas para um chopp e declarou sua inclinação ao poliamor. Talvez ainda seja cristã, não posso dizer, mas o fato é que abandonou alguns dos preceitos mais radicais da sua antiga igreja.
Também temos casos mais notórios, divulgados pelos veículos jornalísticos de grande circulação ou pelas editoras. Fabio Marton é um que resolveu largar a crença e simplesmente virar ateu. Sua história é contada no seu livro “O Ímpio” da Editora Leya. Não li o dito cujo, provavelmente não lerei, mas de todo o modo serve para ilustrar que o assunto deve gerar interesse. Um caso similar ao psicólogo americano Michael Shermer, autor do livro “Cérebro e Ciência”, que abandonou as crenças da juventude e, por meio da ciência e da psicologia, tornou-se ateu.
Outro caso curioso foi de Marcos Gladstone. Ele criou uma igreja evangélica que aceita o homossexualismo. Ele próprio um homossexual assumido, ainda que tardiamente já que manteve a aparência numa suposta cura evangélica e um casamento fadado ao fracasso, um belo dia assumiu-se em definitivo e resolveu fundar sua própria seita. Em 2012, a igreja contava com seis “filiais” espalhadas pelo Brasil, além da sede no Rio, e um total de 1,2 mil fiéis. Hoje, segundo o seu site, conta com 9 igrejas em três estados. Isto sem contar outras similares que oferecem liturgias semelhantes e buscam o mesmo público-alvo.
Nos Estados Unidos é notório casos em que pastores abdicam de sua fé e se tornam ateus. Além de Shermer, Daniel Everett foi um deles que começou a alterar sua percepção de Deus após a convivência entre diversos povos na tentativa de evangelização, inclusive entre os Pirahã na Amazônia Brasileira. Outro é Bart D. Ehrman, que problematiza a bíblia e a questão do sofrimento. Um dos mais antigos é Dan Barker, que desde 1984 prega o ateísmo. Diante de tantos casos, é possível afirmar que existe um verdadeiro filão norte-americano, o de ex-pastores que relatam sua desesperança com a fé e pregam o ateísmo. Talvez o gênero comece a fazer sucesso por aqui também em algum tempo.
Concluindo, estamos diante de uma constatação incrível e que merece todo o destaque.Se você tem um amigo ou familiar que aderiu ao pleito do radicalismo cristão. Não se desespere e ore. Sim, amigos, é difícil e trabalhoso, mas existe a cura evangélica!
Aleluia, irmãos!