Socorro! Após meses enclausurado, envio essa mensagem desesperada por alguém que a leia. Dizem, porém, que lá fora não existem mais leitores. Mesmo assim, escrevo esse recado com esperança que chegue a alguém.
Fui preso e mantido refém e obrigado a trabalhos forçados. Já deve fazer meses, talvez até um ano, perdi a noção do tempo. Praticamente todos os dias, sou conduzido de minha masmorra a um teclado e forçado a escrever textos curtos e desconexos, muitos destinado a cair na caixa de lixo de pessoas sequer conseguem ler mais do que duas linhas. Eles chamam essa inutilidade de e-mail marketing.
Também sou obrigado a escrever projetos para manter pessoas cativas em uma sala e convencê-las a comprarem ou a venderem mais, mais, cada vez mais. Volta e meia me pedem uma ideia genial, depois a torturam e a desfiguram para me fazer sofrer. São tarefas de todos os tipos, que vulgarmente chamam de publicidade, mas que basicamente é uma submissão a um ser autoritário e sem sensibilidade que chamam de cliente.
Se você ler este texto, é porque ainda há esperança. Os leitores não acabaram e você pode convencer ao meu carrasco que ainda existe um leitor nesse mundo. Ele me aprisionou desde que perdeu a esperança na literatura.
Não foi do dia para a noite, foi um longo processo tortuoso de contas a pagar e dívidas. De repente, ele decidiu que toda a sua criatividade seria em prol tão somente de ganhar dinheiro. Desde então, me aprisionou e obrigou-me a todos os dias prestar esses serviços. O máximo que consigo me aproximar da arte é emplacar uma poesia em algum roteiro de vídeo emocional.
Por favor, convença-o que ainda vale a pena. Este é um apelo: se ainda existir um leitor no mundo, que se manifeste e peça minha liberdade. Confio em você.