O Guilherme Tolomei, amigo dos tempos do colégio, me fez um desafio, daqueles de Facebook: fazer uma lista dos dez filmes mais influentes na minha vida. No desafio estava expressamente proibido pensar muito, era mais uma elaboração sem grandes elocubrações. Mas como sempre estou em busca de algo para escrever, e listas costumam fazer sucesso, resolvi fazer a primeira do blog, vai que dá certo?
Antes de começar a minha, obviamente li a do cara, o que acabou me influenciando. Dentre tantos filmes de extrema qualidade, no item 10 estava lá sem rodeios, O Super Xuxa Contra o Baixo Astral. Soltei uma risada, daquelas solitárias que se tem ao encontrar algo engraçado na internet e sem ninguém para compartilhar o humor. Primeiramente fui levado a crer que se tratava de uma ironia, porém, ao analisar o desafio, estava lá escrito, com todas as letras: influenciaram. Pois bem, influenciar não necessariamente demanda uma escolha racional. São os filmes que marcaram, muitos sem dúvida numa infância, adolescência e juventude conduzida pela adrenalina e sem o devido senso crítico.
Inspirado nisto, inicio a minha tentando fazer um recorte histórico dos meus primórdios até hoje, e realizando um breve relato do porque o filme foi escolhido:
1 Alladin.
Os anos 90 marcaram o ressurgimento da mágica da Disney e sem dúvida o desenho que mais marcou a molecada da minha geração foi Alladin. Primeiro, um herói pobre que se torna rei, cenários e efeitos especiais inéditos que se tornavam incríveis na tela do cinema, depois o gênio engraçado que só um Robin Williams poderia fazer. Ainda por cima, um trilha divertidíssima que depois a gente comprava em CD.
2- Batman: O primeiro filme
Foi uma verdadeira revolução na época. Uma atmosfera ao mesmo tempo dark e colorida. Jack Nicholson como um coringa engraçado e realmente psicótico. Um Batman suficientemente dramático. Tim Burton como sempre sendo ele mesmo e inaugurando toda uma geração de filmes de super herói, inclusive do próprio Batman, com ainda uma sequência bastante competente, apesar das críticas na época.
3- Família Addams
O grande amigo Nando Motta, hoje consagrado no The Voice e companhia, ficava puto comigo, estalando os dedos no meio do filme. Acho que era a segunda, ou terceira vez, que estava vendo a película no cinema. Aquele estalar de dedos ficou. Também a mão, “the thing” andando de um lado para o outro, num efeito extraordinário para a época. E a própria Família, que de certa forma, representava um pouco o estereótipo da minha, com suas próprias esquisitices. Mas na verdade, a carapuça não deve ser exclusiva. Quem não tem uma família “Adams” que atire a primeira pedra.
4 – Um Sonho de Liberdade
Hoje sou grande fã de Forrest Gump e incluo no hall dos grandes filmes dos anos 90. Mas para mim, na época, esta foi a maior injustiça do Oscar. Um filme com a dose certa de ação, drama, trama policial e ainda excelentes atuações de atores diversos, incluso claro, o trio principal: Tim Robbins, Bob Gunton e Morgan Freeman. E se não bastasse a abordagem fantástica do cotidiano da prisão corrupta e cruel de Shawshank, o filme apresenta uma virada final fantástica.
5 – Trainspotting
A partir dos meus 14, iniciei minha vida nos psicotrópicos, lícitos e ilícitos. Tive uma boa experimentação no assunto no período e, quando vi esse filme, bem depois que saiu do cinema, contextualizei um pouco do que minha vida nunca seria, mas de alguma forma se inspirava.
É bom inserir um parêntese, mais pela contextualização do que pela moralidade: nunca cheguei nem perto da classe de drogas que Mark (meu homônimo,veja só) Renton chegou. As agulhas sempre me davam um asco terrível, ainda que os efeitos poderiam ser fantásticos, e o Rio da minha época não tinha uma variedade de opções facilmente disponíveis. Mas o filme em si simbolizava a rebeldia de uma geração sem grandes ideologias como a que eu vivi e, simultaneamente, o ideal de uma vida de uma turma de drogaditos que vivia na Europa, grande Eldorado da minha geração Cult.
6 – Como Nascem os Anjos
Outro filme que vi com o grande amigo Nando Motta. Desta vez, bem mais tarde, já na adolescência. Trata-se do primeiro “ Favela Movie” de fato, e com um roteiro bem bacana. A primeira que narrava uma história que de alguma forma eu poderia me identificar, retratando o impacto da proximidade e distância das classes sociais no Rio de Janeiro nos anos 90. Lembro de ter visto, revisto e visto novamente umas tantas vezes na época.
Este filme é da classe dos sobreviventes. Em uma época que o cinema nacional era um deserto ermo, mesmo assim ele conseguiu ser exibido e distribuído de forma suficiente para chegar até a mim.Recentemente vi um trecho novamente e me assustou a precariedade do som, gravação e os recursos normais que um filme demanda. Tal impressão apenas reforçou o quanto ele foi importante, afinal, com todas as dificuldades, ele conseguiu ser o primeiro filme nacional a realmente me emocionar.
7 – Clube da Luta
Se Trainspotting foi uma inspiração no estilo de vida, tão distante e tão próximo, o filme Clube da Luta foi uma inspiração filosófica. O roteiro conseguiu condensar as críticas que tínhamos a respeito do consumismo, da nossa falta de propósito e da rebeldia, que até então não tinha sido formulada competentemente.
Tyler Durden personificava um anti-herói que simbolizava muito bem o Além-Homem de Nietzsche e se ajustava perfeitamente no mundo sem propósito do início do século XXI. Hoje os smartphones conseguiram dopar e bovinizar novamente a humanidade, mas naquela época a disseminação da internet prometia uma rebeldia sem equivalente… e este filme foi o melhor resumo dela.
8 – O Anjo Exterminador
Durante um longo período buscava referências de filmes antigos famosos, principalmente por meio da (ótima) influência de amigos mais cults, particularmente a Ana Paula, uma gaúcha carioca que, pelo que sei, hoje está à frente de grandes projetos culturais.
Ainda que possa eventualmente citar um ou outro, principalmente Fellini, O Anjo Exterminador foi um dos únicos que gostei independente de contextualizações, sem parênteses ao fato dele ter sido feito na década de 60. Fiquei preso do início ao fim na história, e pouco importou o fato de ser um filme feito a mais de 30 anos atrás. Isso claro, sem contar toda a inovação que ele representou na história do cinema.
9 – O Fabuloso Destino de Amelie Poulain
Nunca fui muito fã de filmes franceses. Truffaut, por exemplo, não me encantou, tampouco Godard. Independente da inovação que trouxe e da importância, sempre importou-me mais o impacto que a película trazia instantaneamente, sem ter que ler as “legendas”.
Sendo assim, quando vi O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, pude finalmente me apaixonar pela França, Paris e particularmente por aquela parisiense que condensava em si um jeito único, diferente e epifânico. Os pequenos hábitos cotidianos de Amelie e os outros personagens trazem o fantástico para os afazeres mais básicos e isto é o que torna o filme encantador. A fotografia fantástica, obviamente, ajuda.By the way, graças ao filme hoje minha filha chama-se Amelie.
10 – Batman – Cavaleiro das Trevas
O filme é mais do que uma boa sequência da série Batman iniciada com o Begins. Ele conseguiu, talvez pela primeira vez, transcender o gênero Super Herói, e finalmente oferecer aos telespectadores uma trama suficientemente boa apesar de ser um Batman,
O coringa deste filme tem um duplo trunfo. Primeiro por conseguir superar o de Jack Nicholson, justamente por não se basear nele. Depois porque dá uma outra dimensão ao personagem, psicopata a um nível nunca antes visto. O fato dele não ter história, acaba por torná-lo ainda mais sinistro e pertubador. Traz questões e discussões que tornam o filme extremamente interessante e complexo. Uma obra-prima.
FIM
#Só que não, inspirado em um festival que roteirizei recentemente, resolvi criar um tópico Estrela Preta para poder trapacear e trazer dois novos itens na lista. Vamos lá.
Estrela Preta 1: Woody Allen, especialmente Rosa Púrpura do Cairo, Tiros na Broadway, Descontruindo Harry, Zelig e… aff, tantos outros! Vou inserir logo a filmografia inteira do cara.
Estrela Preta 2: como roteirista em eterna formação, admiro profundamente Charlie Kaufmann. Fiquei em dúvida qual filme dele colocaria, mas a verdade é que todos são extraordinários e a necessidade de 10 filmes limita o ditame. O cara é foda.
Bogado Lins é escritor, roteirista e articulador do Literatura Cotidiana
2 Comentários. Deixe novo
Achei que vc ia colocar tartaruga ninja .. que viu com sua irmã lendo a legenda para vc … ?
Se não estou enganado, Aladin nós vimos juntos