Meu filho está crescendo. Na verdade, isto não seria nada ruim, se não significasse também que eu estou ficando velho. Dá vontade de paralisar o tempo. Ele com a “buxa”, “ananha”, “aus aus” e todos os seres fantásticos que habitam o seu dia a dia, e eu, bem, cuidando para que este mundo continue assim e, às vezes, ensinando novos personagens.
Faz narrativas épicas do que a “buxa” fez com o “miau” e depois com a “ananha”, talvez entrem ainda o papai e a mamãe na história, para então… “pow”! Nunca se sabe qual foi o motivo da briga, tampouco quem levou a melhor.
Verdade, eles ficam meio agressivos quando crescem. Talvez seja a escolinha, algum amiguinho de má indole cuja família não deu regras ou qualquer outro motivo externo que se encaixe na ocasião. Pois é, neste momento, serve qualquer coisa para não culpar seu filho e, por consequência, você mesmo. Mas olhando os amiguinhos da mesma idade, verifica-se que tudo é igual e só mudam o nome e o endereço.
Continua fascinado pela bola, mas agora já a distingue do gol. Aliás, ela se tornou até anglicana neste processo: denomina-a ball. Explico-me, como aprendeu a falar gol primeiro, quando soube que o tal negócio se chamava bola, fez uma operação simples: bola +gol = ball. E quando ele dá um chute e ela vai lá longe, grita euforicamente: gol… do papai! Ele é gentil, sempre me oferece o gol, ainda que eu sempre explique que ele que chutou, portanto detentor do mérito. O importante é que, no final, a gente sempre ganha do time adversário.
Quanto ao seu time, eu já me pronunciei a respeito: pode torcer pelo time que quiser, desde que torça para o Fluminense. Já deixei bem claro. E ficam todos os urubus, corintianos neste caso específico, já que moro em São Paulo, jogando urucubaca para que meu rebento vá para o outro lado da força. Outro dia mesmo, um amigo do Rio me alertou para o perigo, mas tudo bem, ele tem escolha, desde que seja… Portela!
E, para escolher por si só, na tal onda do livre-arbítrio, falta muito pouco, talvez até nem falte. Às vezes debruça-se na geladeira pedindo “cuco”, “kult”, ou outra coisa qualquer que ainda não tenha nome. Algumas vezes, quer que eu apenas abra a geladeira para escolher dentro do universo de opções disponíveis. Ainda bem que ele não aprendeu a palavra “compra”, mas bem provável que esteja bem próximo.
O “PAC” dele não é feito de obras, nem é cultural e nem é a salvação do país ou do PT, é apenas o lugar em que ele pode correr, balançar e procurar novos brinquedos para subtrair momentaneamente de crianças descuidadas. Pois é, o brinquedo dos outros foi, é e será mais divertido. Quando o anuncio, é sempre a alegria do momento. E corre para um lado, para o outro, sobe as escadas do escorrega sozinho e até balança bem no balanço, sem ainda fazer impulso. Gostaria que ele tivesse toda energia para ir andando até lá, quiçá, correndo em vez de querer ir sempre para o colo, afinal ele já não tem mais o peso de um “”.
Aprende pelo menos uma nova palavra por dia. E, neste novo mundo que constrói todos os dias de sentidos e possibilidades, o mais importante até o momento é que o “papai” está sempre presente nestas grandes aventuras.
Bogado Lins é escritor, roteirista e pai de dois filhotes