Estive revendo recentemente o primeiro filme da carreira meteórica de Quentin Tarantino. Se hoje o diretor é consagrado, nos idos anos 90 ainda era uma boa promessa e que esbanjava um filme (bem) divertido no currículo, Pulp Fiction. Mas ao contrário da maioria, que hoje alçou o diretor a outro patamar, minha opinião é que Tarantino perdeu um pouco do melhor das potencialidades que ele desenvolveu em seu primeiro filme.
Sem dúvida, esta linha que está seguindo, um estilo que talvez pudéssemos apelidar de comédia sangrenta reparativa histórica, onde o diretor faz justiça com as próprias mãos, é divertidíssima. Eu mesmo costumo estar nas primeiras semanas nas filas do cinema assistindo qualquer novo bastardo lançamento seu. Mas o fato é que, excetuando algumas cenas e diálogos, seus filmes posteriores não costumam ser muito mais do que uma boa ideia com uma boa execução.
Por isso, até o momento, Cães de Aluguel é de fato sua obra prima. Veja bem, talvez Pulp Fiction seja mais divertido, e de, alguma forma, inesperado. Suas reviravoltas e personagens oferecem uma ótima experiência cinematográfica. Mas os excelentes diálogos do autor e diretor tornam-se ainda mais primorosos quando ocorrem em um ambiente absolutamente verossímil. E a fronteira entre o real e a referência foi cruzada justamente no seu filme seguinte, em Pulp Fiction, abandonando esta seara que talvez nunca tenha sido propriamente sua.
A cena em que o “rat” ensaia a sua piada para se sentir um “insider” é incrível. Particularmente, a forma em que ela é conduzida pelo diretor é genial, montando pouco a pouco o cenário que poderia ser real. Isto sem contar os confrontos entre eles para descobrir quem de fato é o delator. E, creio que é digno de nota, quando descoberto o dito cujo, não encerra o suspense, afinal ainda há que se descobrir quem de fato vai tirar a sorte grande.
De algum modo, os personagens, os “misters”, tem todos os ingredientes que os tornam instigantes para o público, inclusive a traição no esquema, de tal modo que desde o início, torcemos para que tudo dê certo para os simpáticos scumbags. A trama torna-se ainda mais divertida conforme vai se montando o cenário do crime e mostrando a história de cada personagem.
Mas o que mais se destaca é que trata-se de um filme de Tarantino, mas que poderia ser de qualquer grande diretor, ou simplesmente, um ótimo filme de ação, que transmite de verdade o estilo das ruas. E, creio que mais importante, onde não existem heróis ou vilões. Afinal, de alguma forma, seus filmes começaram a perder um pouco da “tarantinidade” quando os heróis começaram a ficar óbvios demais.