Quem conhece a Gloriete sabe que ela tem Luz, até no sobrenome. Uma de suas amigas e queridas da vida, a Paula Preta, capitaneia um samba em pleno Largo da Santa Cecília. Um lugar importante na paulicéia.
Já fui em muitos sambas em minha vida e o que posso destacar nesse em específico, talvez por coincidência do dia e do horário, é que ele foi do inicio ao fim um samba de mulheres. E que mulheres! Cada uma com sua história – baianas, paulistas e sambistas representando suas tradições. Todas orgulhosas de suas raízes negras, africanas e brasileiras, desfilando seu orgulho em formato de samba, no melhor estilo.
Essa particularidade, uma roda de samba conduzida por mulheres, me alertou para a importância do feminino no samba. Seria errado falar de leveza, de doçura, ainda que as mulheres tenham também isso em si, particularmente naqueles que elas escolheram com sua benção amar, mas isso definitivamente não expressa o espírito feminino. E ainda mais no samba. Vamos lembrar de Clementina de Jesus, Clara Nunes, Bethânia, que interpretam as músicas de tal forma que se tornam delas e com uma fortaleza dificilmente reproduzível. Estamos falando do feminino em seu poder absoluto. As mulheres são poderosas muito antes do empoderamento.
Mas deixemos todas as grandes questões para outras discussões, estamos falando de samba, todos os últimos sábados do mês. Convidadas especialíssimas dão seu recado. Há um certo privilégio àquele samba rural, pasmem, em pleno samba urbano, um espaço onde a voz feminina sobressai naturalmente. Ora, se o melhor samba é uma forma de oração, que voz melhor do que a feminina para orar? Aquela que tem em si a semente de criar e reproduzir e toda a fortaleza que isso deriva. Não a toa, está ali do lado de uma igreja, para semear o sagrado, seja qual for a religião que você acredita.
O famoso Jongo ,derivado da Serrinha com raízes rurais, o samba de roda baiano e, claro, uma ou outra referência que todos conhecem eram apresentados a um público sedento por ocupar os espaços urbanos e se sentir parte da cidade que ela, enfim, habitou.São Paulo é outra quando você a conhece e ocupa, junto, esses espaços.
Simplesmente, não consigo pensar em melhor forma de falar de empoderamento. Um samba das minas, em pleno centro, dando espaço para desfrutar da sua própria cidade. Quero fazer parte disso mais vezes com minha voz no coro.
Samburbano
Último sábado do mês a partir das 15h
Largo da Santa Cecília